Para efeito deste estudo sobre o fenômeno UFO já poderíamos parar por aqui e não arriscar em apresentar mais um entre os milhares de falsos relatos sobre o assunto. Considerando porém a quantidade e o tempo em que esses relatos são apresentadas na mídia surge a famosa frase de Abraham Lincoln:
“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo tempo, mas não se pode enganar a todos todo o tempo…”
Em 2008, a Coordenação Regional do Arquivo Nacional no Distrito Federal recebeu do Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica material relativo a Objetos Voadores Não-Identificados compreendendo o período 1952-1969. Igualmente em 2009 referente às datas-limite 1970-1979 e outro com as datas-limite 1980-1989. Estes três recolhimentos totalizam 1562 páginas de documentos. Em 2010 foi encaminhado materiais que datam de 1990 a 1999, perfazendo 793 páginas. Veja o texto completo sobre o material na ref.1.
Entre o material acima será apresentado aqui como evidência aquele que foi divulgado publicamente na época pelo Ministério da Aeronáutica brasileiro e ficou conhecido como “A Noite Oficial dos OVNIS”, foi apresentado na reportagem do Fantástico na época e testemunhado por oficiais da aeronáutica, pilotos, operadores de radar e pessoas proeminentes. Veja o relato completo na ref.5 e assista o vídeo da rede globo na ref.6.
Na noite de 19 de maio de 1986, os radares que controlam os céus brasileiros sobre São Paulo, Rio de Janeiro e Anápolis detectaram objetos voadores não identificados. Além dos operadores dos radares do CINDACTA I (Primeiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo), pilotos de caça e da aviação civil participaram da tentativa de identificação daqueles plotes (pontos de radar) inexplicáveis e fizeram contatos visuais.
A primeira tripulação a ver os contatos não identificados no céu incluía o então aviador da reserva Ozires Silva (presidente da EMBRAER, mais tarde presidente da PETROBRAS, presidente da VARIG e ministro da República) e seu co-piloto, Alcir Pereira da Silva.
Alertados pelo CINDACTA I sobre possível contato visual com três objetos não identificados que apareciam no radar avistaram algo com aparência semelhante a de um astro. Uma luz muito forte e fixa no espaço. Sua cor era a de um forte amarelo, com tendência ao vermelho. Por volta das 22h, quanto mais se aproximavam do objeto, mais ele desvanecia, até desaparecer por completo.
Decidiram então, voar para leste, cruzando o Aeródromo de São José, rumo a um segundo objeto aparentemente situado ao sul de Taubaté. Abaixo de seu nível de vôo, a cerca de 600 m do solo e se depararam com um objeto bastante alongado, com a aparência de uma lâmpada fluorescente.
Importante dizer que Ozires Silva confirmou esse relato em 1995 ao programa “Balanço Geral” conduzido pelo radialista Gilberto Pereira na rádio Bandeirantes.
Após confirmação ao CINDACTA I de contato visual as informações foram repassadas ao Centro de Operações de Defesa Aeroespacial (CODA) que determinou o acionamento de cinco aeronaves interceptadoras em alerta nas Bases Aéreas de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e de Anápolis, em Goiás.
O mapa da ilustração desse post mostra a área na qual ocorreram os contatos, os sítios radares que acusaram contatos e o posicionamento dos objetos voadores não identificados.
21:23 – O primeiro avião, um F-5E pilotado pelo Aviador Kleber Marinho saiu da Base Aérea de Santa Cruz (RJ) e realizou contato por radar e visual com um objeto não identificado.
22h:45 – Parte da base aérea de Anápolis (GO), o Capitão Armindo de Souza Viriato de Freitas, pilotando um F-103. De acordo com relatos, seu contato com o alvo foi feito através de seu radar de bordo, não tendo havido contato visual. O que mais surpreendeu o piloto foi a incrível velocidade do alvo, e seu repentino desaparecimento.
22:50 – Santa Cruz: um segundo avião foi acionado pilotado pelo Capitão Marcio Brisola Jordão.
23:17 – Anápolis: Decola o Capitão Aviador Rodolfo da Silva e Souza com um Mirage. Durante seu vôo, os contatos foram detectados pelos radares do CINDACTA mas o Capitão não realizou contato visual ou por radar e retornou à base.
23:36 – Anápolis: Um terceiro avião pilotado pelo capitão Julio Cezar Rozenberg, decolou sem realizar contato visual ou por radar, totalizando cinco diferentes tentativas de interceptação.
Portanto, das cinco aeronaves militares, apenas uma obteve contato visual e contato por radar conforme depoimento abaixo.
“Eu efetuei a curva, estabilizei a aeronave na proa que ele havia recomendado e, como pedido, comecei a fazer uma varredura visual. Foi neste momento que eu avistei uma luz muito forte que se realçava em relação a todas as luzes no litoral. Estava um pouco mais baixa do que eu. A impressão nítida que eu tive, naquele momento, era de que ela se deslocava da direita para a esquerda. Olhei para aquela luz. O seu movimento era muito evidente para mim. Perguntei à Defesa Aérea se existia algum tráfego naquele setor no momento, devido à proximidade com a rota da ponte-aérea, na época. Fui informado que não. Não existia aeronave alguma no local naquela hora. Informei então ao controlador que eu realmente estava vendo a luz se deslocando na minha rota de interceptação, às 2 horas (à minha direita), um pouco mais baixo do que a posição da minha aeronave. Foi naquele momento que eu pude ter uma noção da altura do contato, algo em torno de 17 mil pés. Imediatamente recebi a instrução de aproar aquele alvo e prosseguir com a aproximação e sua possível identificação. A cerca de 8 a 12 milhas, um alvo apareceu na tela, confirmando a presença de algo sólido na minha frente. Isto coincidia com a direção da luz que eu havia avistado. Nos radares que equipavam os caças da época, o tamanho do plote varia de acordo com o tamanho do contato. O radar indicava um objeto de cerca de 1 cm, o que significa algo na envergadura de um Jumbo (Boeing 747). Cheguei perto do alvo, posicionando-me a cerca de seis milhas de distância dele, o que ainda é longe para que possa haver uma verificação precisa, ainda mais à noite. O alvo parou de se deslocar na minha direção e começou a subir. Eu não perdi o contato radar inicial e passei a subir junto com ele. Continuei seguindo o contato até cerca de 30 mil pés, quando perdi o contato radar e fiquei apenas com o visual”.
Finalmente, as 3:00 da manhã quando, aparentemente, os céus brasileiros não eram mais freqüentados por nada fora do normal, um vôo cargueiro da Varig em avião Boeing 707, decolado de Guarulhos para o Galeão, no Rio de Janeiro, também teve participação nos acontecimentos com testemunho do comandante Geraldo Souza Pinto.
“Quando cruzávamos cerca de 12 mil pés, o CINDACTA nos chamou no rádio e pediu para que confirmássemos se víamos algum tráfego na posição de 11 horas. Perguntamos se o contato estava no radar deles, e a resposta foi positiva. Foi nesta hora que eu o vi. Uma luz muito forte brilhou, como um farol branco. A emoção que eu tenho até hoje se confunde com a certeza de que ele estava acompanhando a nossa fonia. No mesmo momento em que nos perguntaram se estávamos avistando o tráfego e eu respondi que não, ele piscou, como quem díz: ‘Estou aqui!. Nós não tínhamos noção da altura do tráfego, pois os radares dos aviões comerciais são meteorológicos e, diferente dos caças, têm muita dificuldade de captar outra aeronave. Eles não são feitos para isso. O controlador também não podia saber a altura do objeto já que, sem transponder, tudo o que ele vê é a dimensão única do radar, sem diferença de altitude. O objeto estava próximo de Santa Cruz e a nossa distância era em tomo das 90 milhas. O que eu posso dizer é que ele estava, visualmente, a uns 20 graus mais alto do que nós. Atingimos nossa altitude de cruzeiro de 23 mil pés, e durante todo o vôo o controlador foi nos informando sobre a aproximação. Passou para 60 milhas, depois 50, o tempo todo na nossa proa. O controlador nos avisou, então, que o alvo havia se deslocado em alta velocidade para a nossa direita, atingindo, em fração de segundos, uma velocidade incrível, algo acima de Mach 5. Um ser humano não agüentaria uma aceleração dessas. Ele morreria com tal deslocamento!.”
Vejamos as palavras do Ministro da Aeronáutica na época, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Octávio Júlio Moreira Lima que, após informar o Presidente da República José Sarney sobre o ocorrido, comunicou a Nação o que havia acontecido na noite de 19 de maio.
“Há muitas hipóteses. Pode ter sido um fenômeno eletromagnético, uma interferência qualquer… Mas a situação continua indefinida. Só acho importante lembrar que ilusão de ótica o radar não registra”. Quando alguém se depara com um contato, informa ao tráfego aéreo, que vai reportar aos centros integrados, situados em Curitiba (PR), em Brasília, em Recife (PE), e na Amazônia… Estes centros estão em permanente comunicação, é tudo automatizado. Fui informado logo de imediato. Quando ocorre uma situação dessas, o Comando Geral do Ar logo dá ciência ao Ministro. E a partir dai que os procedimentos de interceptação são disparados. E foi assim que ocorreu. Os caças levantaram vôo apenas com ordem de verificação. Em nenhum momento foi mantida uma postura agressiva. Como poderíamos atirar em algo que desconhecíamos? As luzes foram plotadas no radar e tínhamos que tentar identificá-las. Não existe aquela preocupação de decolar com mísseis, como nos filmes. Os aviões de permanência geralmente estão armados. Eles ficam 24 horas com os pilotos do lado, prontos para serem acionados em minutos, mas, a principio, sem ordem de disparo. Eu disse que faria uma entrevista coletiva e fiz. Relatei o que eu sabia, o que foi de fato o ocorrido, e que até hoje não podemos explicar”.
Quinta Conclusão
Achei interessante a evidência pelo simples motivo de que envolveu diretamente dezenas de pessoas, foi confirmado por diversos órgãos oficiais, envolveu o depoimento de altas patentes militares e altos cargos civis e políticos e foi divulgado amplamente pela imprensa nacional. Talvez esse episódio seja o mais bem documentado do mundo sobre UFO´s e, infelizmente, faltaram filmagens e registros eletrônicos, que na minha opinião são de pouca validade, uma vez que sua interpretação visual é muito difícil, bem como atestar sua originalidade.
Considero que o depoimento simultâneo de pessoas de alto nível técnico aeronáutico é forte o suficiente para demonstrar a simples existência do fenômeno UFO, seja qual for a sua causa.